Tuesday, August 29, 2006

 
Aos amigos Antonio L. N. Bechelli, Fúlvio N. Bechelli, Adalberto J. Guazzelli e tantos outros realizadores e mantenedores deste belo legado


Uma tradição que se conserva há 49 anos


Embora a vida se modernize a cada dia, há quem conserve até hoje e com muito vigor as tradições deixadas por seus ascendentes. Se houve um passado difícil, marcado pelo trabalho incansável e os anseios por um futuro próspero, em muitos casos também existiram coisas prazerosas e que traziam diversão a essas pessoas tão lutadoras.


O post de hoje diz respeito à Festa de São Bartholomeo, que há 49 anos é realizada no Parque Estoril, em São Bernardo do Campo/SP. Idealizada pelos imigrantes italianos provindos da região de Lucca, na Toscana (mais propriamente de Chiozza, cidade da qual o santo é padroeiro), ela permanece ininterrupta e incansável, reunindo duas, três e até quatro gerações num clima de muita euforia e familiaridade. A festa é realizada sempre no último domingo de agosto iniciando-se com a missa em italiano e, no melhor estilo piquenique, embala toda a tarde com muita comida, vinhos, dança e divertimento.


A festa lembra os antigos almoços que o imigrante Séttimo Guazzelli - morador do centro da antiga Villa de São Bernardo de outrora - fazia no quintal de sua casa. Ele e seus conterrâneos - membros de famílias como Bechelli, Santucci e outras - idealizaram o último domingo de agosto como agradecimento pela prosperidade e forma de integrar amigos e familiares e fizeram com que a tradição rodasse toda a cidade e começasse a trazer gente até das Villas vizinhas, hoje municípios. Hoje pessoas até de fora do Estado vem para prestigiar essa festa tão saborosa.


Hoje, a festa conta com uma estrutura que vem bem a calhar: os quiosques do parque são tomados pelas famílias (agora não só de Chiozza, mas de toda a Itália, bem como seus descendentes); o coral Bicchieri D'Oro anima a missa; há a poesia oficial da festa escrita e lida anualmente pelo autor deste blog (Fábio S. Gomes); o vinho é totalmente artesanal, assim como as comidas típicas especialmente feitas para a comemoração... Um lembrete especial para um dos que mais batalha pela realização desse evento: Antonio Lázaro Nicola Bechelli, que incansavelmente gerencia e lidera as equipes junto com outras pessoas de mesmo peso não só no domingo festivo mas nas semanas anteriores e subseqüentes.


Rumo aos 50 anos, o planejamento da festa continua firme e desperta ansiedade nas pessoas que anualmente participam do evento. O passado sobrevive e dele tudo o que foi bom é comemorado nesse evento tão bonito, visivelmente feito com amor esses anos todos. Como presente aos que lá estiveram e não conseguiram a cópia da poesia este ano, segue ela abaixo para apreciação.


(Vale lembrar que as poesias dos anos anteriores foram publicadas em livros e também estão com autor deste blog... Para requerê-las , é só entrar em contato).

Ricordi per tutta la vita


Talvez com o sonho de buscar o infinito
Talvez com a ânsia de mudar, ter um futuro...
Ele partiu, sem ter um destino certo
Rumo a um país desconhecido e inseguro


Com sonhos vagos e uma vida pela frente
Uma nostalgia, que como tantas outras requer
Que a contragosto, largue-se assim a própria pátria
Por um lugar onde mais lhe convier


E ele veio, destemido e confiante
Deixando casa, família e sua terra
Lágrimas nos olhos, melhor que ser dizimado
Pela fome, pelo frio ou pela guerra


Fez bons amigos, trabalhou e deu bons frutos
Com seu sotaque arrastado cativou
Quem não se lembra de história parecida
Com seu tio, o seu pai, ou seu avô?


Com confiança eles traçaram seus caminhos
E estenderam isso a toda a geração
O que nós temos e fazemos em lembrança
É aquilo que chamamos tradição


Falamos sim do vinho, das viagens
Do seu trabalho, do carvão e das batatas
Se aquela aventura foi severa
As suas metas se mostraram mais que exatas


E assim se fez isso que vemos com ternura
Resultado da labuta tão pesada
Que nos mostra que se a vida nos aperta
É que devemos insistir na caminhada


Viva esses bravos guerreiros de outrora
Cujo sangue carregamos com louvor
Se vivos, ficariam gratos de saber
Que a tradição se conserva com amor


Somos, sim, gratos pela força que acompanha
E que nos chama a aclamar essa bravura
Nada que venha a acontecer daqui a frente
Irá fazer-nos mudar essa postura


São Bartholomeo, padroeiro de Chiozza
Representa este nosso imigrante
Que não se deixou abater pelo cansaço
Lutando sempre e seguindo avante


Ele é motivo do que vemos aqui hoje
E está vivo em cada um que aqui está
É solene que o lembremos e tenhamos
Energia para crer e prosperar


Se aqui estamos, festejamos sua causa
E ao cinqüentenário rumamos primorosos
Como orgulha saber que o tempo passa
E continuamos nós vitoriosos


Fé e graça, italiano, e seja forte!
Pelo bem e pelo dom que recebeu
Viva nós todos, viva a fé e esperança
Com que festejamos nosso São Bartholomeo!



Fábio S. Gomes
Poesia Oficial da 49ª Festa Tradicional de São Bartholomeo – 27/08/2006

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O Observador Periclitante fica por aqui.


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